terça-feira, 24 de março de 2009

Liguagem sem regras


Os adolescentes usam a linguagem SMS e Messenger mesmo nos testes escolares. A grafia utilizada num texto "instantâneo" está a ser transportada para o contexto escolar, quer se trate de trabalhos ou testes. Especialistas defendem que esta linguagem, sem regras, pode comprometer o futuro da Língua Portuguesa.

Preocupados com o futuro da Língua Portuguesa, professores lamentam que os mais jovens estejam a esquecer-se da pontuação, a escrever com maiúsculas indiscriminadamente, usando-as no meio e no fim das frases, e a abandonar cedilhas e acentos.


Testemunhos reais

"Já não saberia dizer tudo certinho. Usei muito as abreviaturas, até mesmo nas fichas escolares. Por exemplo, em vez de "porquê" colocava "pk" e tirava todas as vogais da palavra "contigo"", admite Carolina Lourenço, de 13 anos. Esta aluna da Escola Básica 2/3 Pedro Nunes, em Alcácer do Sal, chegou a ouvir dos professores "toma atenção, não estás no computador", contou, acrescentando que também a mãe a alertou para "ter mais cuidado com a Língua Portuguesa".

Alexandra Cabral, docente de Português na Escola Secundária Dom Manuel Martins, em Setúbal, também destaca o papel de quem ensina, sustentando que "os alunos gostam de usar as abreviaturas porque acham que é giro e moderno, mas só o fazem se os professores não retirarem pontuação ao trabalho. Quando isso acontece num primeiro trabalho e eu corrijo, não volta a verificar-se".

"Eu e os meus colegas já estamos tão habituados a abreviar e a alterar que fazemos o mesmo com o Inglês, escrevendo "yer" em vez de "your" [palavra inglesa que significa 'teu']", exemplificou, acrescentando que "até a falar isso se nota", relatou Beatriz Seves, aluna da Escola Secundária Dom Manuel Martins, em Setúbal.

"A língua é um instrumento vivo e em constante mutação, mas também é um bem valioso e a simplificação pode empobrecê-la, na medida em que afecta a sua diversidade", declarou outro docente, Renato Nunes, para quem esta tendência "vai agudizar-se no futuro. Além de usarem esta grafia em programas que servem para comunicar, e onde pouco importa a correcção ou incorrecção do discurso, os adolescentes estão a usar esta linguagem também em contexto escolar".

"É certo que a língua não é homogénea e que os jovens utilizam abreviaturas e um estilo coloquial quando enviam SMS ou estão no Messenger mas, na comunicação escrita formal, devem seguir a ortografia em vigor", defende João Malaca Casteleiro, Professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, para quem "estes dois planos não podem ser confundidos".

"Esta nova linguagem não tem regras, pois os adolescentes tanto usam o "x" para substituir "ss", "ch" e "os" como no lugar do "ç", havendo palavras que ficam bastante diferentes das originais, como "tamx" (estamos) ou "kuraxao" (coração)", declara Rosário Antunes, professora de Português, a exercer no Estabelecimento Vilamar (Funchal).


Alguns docentes encaram mesmo a possibilidade desta linguagem comprometer o futuro da Língua Portuguesa.